Pescadores de Roraima temem prejuízos após anúncio de contaminação de rios por mercúrio

Representante dos pescadores, Leonel Pereira, afirma que essa contaminação já vinha sendo percebida pelos trabalhadores / Foto: Bruno Kelly/HAY /

A vida não está fácil para quem vive de pesca em Roraima, principalmente após a notícia da comprovação de que o peixe pescado nos rios do estado estão contaminados pelo mercúrio advindo dos garimpos que funcionam ilegalmente em terras indígenas, especialmente da área Yanomami.

Essa comprovação do que todos já desconfiavam (devido à intensificação da garimpagem no Estado) trouxe preocupção adicional para quem sobrevive da pesca em Roraima. Conforme o presidente da Fesperr (Federação dos Sindicatos de Pescadores e Piscicultores de Roraima), Leonel Pereira, essa contaminação atinge diretamente a atividade pesqueira do Estado.

Leonel Peteira revela que a federação já estava preocupada com essa contaminação porque já vinha percebendo mudanças na cor e consistência das águas dos rios.

"Há muito tempo a gente vem percebendo a água toldada, suja, e a escassez do peixe. No verão passado, por exemplo, foi muito ruim de peixe, principalmente na parte do Uraricoera e em uma certa parte do rio Branco", afirma.

O presidente da Fesperr acrescenta que alguns associados já não têm mais segurança para pescar nesses rios.

"Com essa informação da contaminação, muitos estão com medo de se contaminar na pescaria e também de não conseguir comercializar seu seu produto, haja vista que os consumidores, ao tomarem conhecimento dessa comprovação, vão ficar sem querer comprar o nosso produto", pontua Leonel Pereira, ressaltando que espera das autoridades uma solução para esse problema.

Peixe de cativeiro é seguro para o consumo

Leonel Pereira, no entanto, afirma que o peixe de cativeiro é seguro para o consumo, uma vez que é produzido sem nenhuma ligação com os leitos dos rios contaminados com mercúrio.

"O peixe de cativeiro não tem nada a ver com essa contaminação, pelo menos com o mercúrio. Os nossos criadouros são em águas paradas e com um tratamento diferenciado. Nesses criadouros, a comida dos peixes são especiais, são feitas com toda a técnica, dentro das normas estabelecidas para esse tipo de atividade", assegura.

Ainda conforme Leonel Pereira, o pescado de Manaus ainda é consumido em Roraima, apesar de em menor quantidade. "A verdade é que hoje o roraimense consumome mais o pescado de criadouro do que mesmo o capturado nos rios ou importado do Amazonas", esclarece.

Leonel Pereira acrescenta, também,  Mas uma informação boa para os nossos consumidores é que o pescado de criadouro é de boa qualidade aqui do nosso estado, de excelente qualidade, por sinal, muito melhor do que em outros em vários outros estados da nossa Federação. O peixe de Roraima produzido em cativeiro é em primeiro lugar no Brasil, graças a Deus.

Apoio aos pescadores

Mas os pescadores de Roraima prejudicados com essa contaminação por mercúrio não ficarão de braços cruzados. Conforme Leonel Pereira, a Federação já está tomando providências no sentido de buscar, junto aos governos federal e estadual e até municipal, encontrar uma forma de ressarcir os prejuízos dos pescadores, além de cobrar providências para interromper esse processo de contaminação.

"Nós já estamos em contato com a nossa Confederação Nacional e com o setor da pesca do Ministério da Agricultura, para saber qual será o planejamento a ser feito para assistir os pescadores atingidos em Roraima", revela.

De acordo com Leonel Pereira, apesar de a licença ser federal, a federação também vai procurar o Governo do Estado e as prefeituras dos municípios envolvidos para buscar uma maneira de colaborar com os trabalhadores prejudicados.

"Vamos tomar as atitudes necessárias para resolver essa situação. Entendemos que as três esferas de governo devem se envolver para chegarmos a uma solução para esse problema. As autoridades têm que tomar providências para coibir essa prática e gente poder continuar sobrevivendo. Não são somente os pescadores atingidos, mas toda a população e os animais da floresta que bebem água dos rios do Estado", ressalta.

O estudo

Um estudo divulgado essa semana revelou que, como resultado do garimpo ilegal na Terra Indígena Yanomami, os pescados coletados em três de quatro pontos na Bacia do Rio Branco apresentaram concentrações de mercúrio maiores ou iguais ao limite estabelecido pela FAO (Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura) e a OMS (Organização Mundial da Saúde).

O estudo foi realizado no período de 27 de fevereiro a 6 de março de 2021 por pesquisadores da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz), do ISA (Instituto Socioambiental), do Instituto Evandro Chagas e da UFRR (Universidade Federal de Roraima).

O mercúrio (metal pesado, líquido) é utilizado pelos garimpeiros para separar o ouro (especialmente no formato em pó) dos cascalhos e, durante o processo de lavagem, o produto acaba sendo despejado nos rios sem qualquer tipo de tratamento.

Em contato com os seres vivos, entre eles peixes e os humanos, o mercúrio afeta principalmente o sistema nervoso, o coração, o fígado, o pulmão e os rins.

Os pesquisadores coletaram amostras de pescado e revelou índices altos de contaminação em trecho do rio Branco, em Boa Vista (25,5%), no Baixo Rio Branco (45%) e nos rios Mucajaí (53%) e Uraricoera (57%).

O estudo também recomenda os peixes que podem ser consumidos e a média segura para consumi-los:

- Peixes carnívoros com risco muito alto (consumir no máximo uma porção de 50g, uma vez ao mês): filhote, barba chata, coroataí, piracatinga e pirandirá;

- Peixes carnívoros com alto risco (consumo não deve exceder 200g por semana): dourada, mandubé, liro, pescada, piranha preta e tucunaré;

- Peixes não-carnívoros com médio e baixo risco (sem restrições e podem ser consumidos em porções de até 300g por dia): curimatã, jaraqui, matrinxã e pacú.

WIRISMAR RAMOS - da Redação (e-mail: opinativa.net@gmail.com) - com informações do site ESTADO DE MINAS
Categoria:Economia

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