HABEAS CORPUS: Decisões do STJ revelam suposto envolvimento de Jalser no sequestro de Romano dos Anjos

A Operação Pulitzer foi deflagrada no dia 16 deste mês, para cumprimento de mandados de prisão, busca e apreensão contra os acusados de envolvimento no sequestro e tortura do jornalista Romano dos Anjos / Foto: Marcelo Marques /

Após a deflagração da Operação Pulitzer no dia 16 deste mês, a cada dia surgem mais detalhes sobre o caso do sequestro e tortura do jornalista Romano dos Anjos. O crime foi em outubro de 2020.

A sessão da ALE-RR (Assembleia Legislativa de Roraima) desta terça-feira, 21, foi esclarecedora. Os pronunciamentos dos deputados Nilton Sindpol (Patri), Jalser Renier (SD) e Soldado Sampaio (PCdoB) revelaram detalhes que não era de conhecimento da população, mas que já eram tema de boatos nos bastidores da própria ALE-RR e do Palácio Senador Hélio Campos, sede do Governo estadual.

Hoje, 22, novos detalhes do caso foram revelados com a publicação das decisões do ministro Jesuíno Rissato, da 5ª Turma, que é o relator do caso Romano dos Anjos no STJ (Superior Tribunal de Justiça), onde os a defesa dos militares acusados* impetraram HCs (Habeas Corpus) com pedido de liberdade. Até agora, dos sete presos na Operação Pulitzer, quatro impetraram HC e todos foram negados pelo relator.

Em sua justificativa para negar os HCs, Rissato dá alguns detalhes da participação de cada acusado, conforme o relato do MPRR, segundo o qual confirma o envolvimento do deputado Jalser Renier nos crimes em questão.

HC Nº 695220/RR:

Segundo o MPRR, dias antes do crime um dos acusados, “Policial Militar da Força Tática, lotado no SISO e também na segurança pessoal do ex-Presidente da ALE/RR, o investigado Jalser Renier", esteve com outro policial do BOPE "e lhe propôs participar do sequestro do jornalista, afirmando que era por ordem do deputado Jalser Renier".

HC Nº 695169-RR:

Nesse HC, o relato do MPRR diz que o acusado é “Policial Militar lotado na segurança pessoal da família do então Presidente da ALE/RR, o investigado Jalser Renier, e membro do SISO". Segue afirmando que "quando a esposa do jornalista sequestrado foi à Polícia registrar o Boletim de Ocorrência, [o acusado] ficou todo tempo atrás dela, acompanhando o depoimento e digitando em seu celular, numa clara atitude intimidatória e se comunicando com os demais investigados sobre o que a vítima falava e se os implicaria".

"No dia em que [o acusado] teria recebido a intimação para depor sobre os fatos, foi até a casa da vítima, tirou uma foto e lhe enviou, numa clara ameaça velada, como assim foi interpretado pelo jornalista. Posteriormente se justificou dizendo que era amigo das vítimas e queria visitá-las, o que foi negado pelos ofendidos", diz outro trecho.

O relato do MPRR segue afirmando que o acusado "é um investigado de alta periculosidade, pelo domínio operacional (membro do BOPE) e de inteligência (membro do SISO ao tempo dos fatos), e sua atuação ao longo da investigação demonstra histórico de potencial prejuízo à nova fase da investigação; houve conexões do WhatsApp do dispositivo móvel do investigado na NOITE DO CRIME (26 de outubro de 2020), em rede de internet WIFI do escritório do deputado Jalser Renier".

HC Nº 695221-RR:

O outro investigado preso, conforme o MPRR, é “Policial Militar da Força Tática, e segurança do ex-Presidente da ALE, Deputado Jalser Renier". "[ocultado] esteve na ERB (estação rádio base de telefonia celular) da casa da vítima várias vezes nos dias anteriores ao fato o que indica que estava monitorando e investigando os ofendidos em dias que antecederam os fato criminosos".

Ainda conforme o MPRR, outro investigado mandou mensagem de áudio para seu colega (segurança de Jalser) no dia do crime com o seguinte teor: "Estamos aqui na ALE, entendeu? Eu e o coronel [ocultado]. Aí, o coronel [ocultado] vai dizer o horário que é pra mim te pegar pra pra pra tu deixar a gente entendeu?"

Também no dia do crime, segue o relato, foi encaminhada mensagem ao grupo da segurança de Jalser com o seguinte teor: “Éhhh... alguém da segurança do presidente aí, tem o contato ou então, tá em contato com o [ocultado]? Preciso falar com o [ocultado]”.

Já na manhã do dia posterior ao crime (27 de outubro de 2020), foi encaminhada uma mensagem pelo segurança de Jalser ao policial [ocultado] (Tenente da PM e também servidor da ALE) pedindo que apagasse a mensagem anterior, referindo-se ao crime como acontecimento: “[ocultado], ontem, antes do acontecimento aí... teve uma chamada com urgência... pra um dos seguranças do presidente da ALE, apaga essa mensagem lá... ow, [ocultado]! Faz um favor!”, o que demonstra o propósito de ocultação de provas, conforme relata o MPRR.

*A reportagem da Opinativa ocultou os nomes dos envolvidos porque o processo corre em segredo de Justiça.

Sessão histórica

A sessão desta terça-feira, 21, da ALE-RR foi nitroglicerina pura! Tudo começou quando Nilton Sindpol disse que, caso ficasse comprovada a participação de Jalser Renier no caso e se o MPRR (Ministério Público de Roraima) pedir a prisão dele, não pensará duas vezes em votar favorável e, posteriormente, pedir abertura de processo de cassação do colega de parlamento.

O pronunciamento de Nilton fez Jalser quebrar o silêncio. Desde que foi 'sacado' do cargo de presidente da ALE-RR, no final de janeiro deste ano, Jalser não participa presencialmente das sessões, nem se manifestava. Mas a fala de Nilton obrigou Jalser (que participava da sessão de forma remota) a se pronunciar.

Em resumo, Jalser disse que nunca atentou contra a vida de ninguém, que é vítima de uma orquestração política comandada pelo deputado Nilton Sindipol  e um delegado da Polícia Civil com o intuito de incriminá-lo no caso Romano dos Anjos, que não reconhece o deputado Soldado Sampaio como legítimo presidente da Mesa Diretora da ALE-RR porque a decisão monocrática (do ministro Alexandre de Moraes) foi equivocada e que continuará impetrando recursos enquanto puder, até o julgamento da questão pelo Pleno do STF (Supremo Tribunal Federal).

Em contrapartida, Soldado Sampaio também se sentiu motivado a falar, abrir o jogo, e fez grandes revelações sobre fatos que até então eram desconhecidos do grande público. Disse que em novembro do ano passado, quando ainda era chefe da Casa Civil do Governo, Jalser chegou ao Palácio Senador Hélio Campos para falar com o governador Antonio Denarium.

Na ocasião, conforme Sampaio, Jalser teria exigido, em tom de desespero, que Denarium tomasse providências para encerrar a força-tarefa que investigava o caso do sequestro do jornalista. Jalser teria dito, ainda, que um policial militar ligado a ele estaria disposto da dar um tiro na cara do governador e depois tirar a própria vida caso ele fosse preso.

Sampaio disse, inclusive, que estaria disposto a confirmar o teor de seu pronunciamento para o MPRR, caso seja convocado.

Vamos aguardar os próximos capítulos.

WIRISMAR RAMOS - da Redação (e-mail: opinativa.net)
Categoria:Polícia

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